quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Capítulo V - Ah, se meu Código falasse!

Capítulo V

- Vamos ver o que temos aqui!!! – Agitadamente o oitavo tenta abrir o papel deixado pelo Rei. – Será que o Rei também está incomodado com o Processo? Vamos ver... Vamos ver...

E logo veio o alívio:

- Eu sabia! Ele está do nosso lado! Como?! Reunião? Isso! Isso mesmo! Temos que marcar essa reunião o quanto antes.

No dia seguinte, estando os conselheiros reunidos com o Guerreiro para mais uma sessão (segundo eles) de "blá, blá, blá", eis que lhes aparece o Rei e deixa o seu veneno no recinto:

- Já? – Ironiza mais uma vez o Rei.
- Não! – Aborrecido, responde o Gigante. – Esses seus conselheiros são muito lentos!
- Que desaforo! – O sétimo fica indignado. – Nós já teríamos resolvido o problema, que, diga-se de passagem, é super simples, se não fosse você com seus documentos, reuniões e relatórios sem futuro!
- Eeeeeiiiiiiiiitttaaaaaaaaaaaaaa!!! Senti uma agressão aí! – O Rei faz questão de instigar a discórdia entre eles.
- O problema é simples! – Completa o décimo – Fazer o Rei voltar a ouvir pelos ouvidos, removendo os ouvidos do nariz, e colocar um cabelo rastafari nele. Só isso!
- Ignorantes! – Grita o Guerreiro ao mesmo tempo que bota a mão na espada. – Vocês vão ter muito mais qualidade a partir de agora, vão fazer a coisa certa dentro dos prazos, vão ter subsídios para se proteger de qualquer ameaça vinda do deus, ou de quem quer que seja, vão poder...

Estava ainda falando, quando o primeiro se atreveu a mencionar a palavra Prazo:

- Olha só, seu Guerreiro de décima categoria, você promete, promete, mas não cumpre nada. Por exemplo: você fala de prazo, mas o deadline pra essa alteração está chegando. Desde que você chegou e nos botou para trabalhar feito escravos, nós temos trabalhado mais de 15 horas por dia, sem direito a descanso, e o que temos de concreto? Nada! Só bulshit!

O Guerreiro ficou tão vermelho como nunca se tinha visto antes. Ninguém sabia se o vermelho era de raiva ou de vergonha, ou algum outro treco que tenha dado nele. E para completar o dia do Gigante, o Rei solta mais um pouco de veneno:

- O décimo tá certo, sir Guerreiro. Quem está atrasando o pessoal é você.

Foi a gota d’água. A espada toca a ponta do nariz (ou melhor, do ouvido) do Rei, ao mesmo tempo em que se ouve a reclamação:

- Saia daqui, pois Vossa Alteza não está ajudando! – E voltando-se para os outros continua: - Precisamos terminar isso ASAP.
- ASAP?! – Interrompe o primeiro. – Ainda bem! UFA!!!
- Por que o alívio? Posso saber?
- Porque ASAP quer dizer: As Soon As Possible, ou seja, o mais breve possível.
- E?
- E que não é POSSÍVEL seguirmos nesse regime Talibã que estamos.
- Sei que não é o meu papel, mas diante da incompetência dos presentes nesta sala, quem determina o que é possível e o que não é sou eu! – Fala o Gigante.
- Bem, está dado o recado, sir Processo! – O Rei finaliza seu discusso: – O senhor providencie que meus conselheiros não atrasem a implementação pedida pelo deus, pois ele não ficará satisfeito com o menor atraso. E digo mais, se ele não ficar satisfeito, e nós apontarmos você como culpado, ele não vai exitar em dizer "bota outro no lugar.

E deixou a sala.

Na verdade o rei sabia que o deus não estava nem aí para o processo, mas tinha que deixar o Gigante um pouco trêmulo nas bases.

Foi a primeira vez que o Processo se sentiu encurralado pelo prazo.

Todos da sala voltaram, então, para o "blá, blá, blá" anterior.

Ao final do dia, o oitavo soltou o bilhete no colo do nono antes de sair da sala. E essa cena se repetiu por 8 dias, até que todos os outros conselheiros tivessem conhecimento do bilhete do Rei.

No nono dia, a conversa ainda era a mesma:

- Não devemos ter detalhes de interface neste documento, só no outro que o quinto tá fazendo. – O nono critica o trabalho do terceiro. – Veja que aqui você fala em “visual”.

O terceiro puxa bem fundo o ar e calmamente fala:

- E se eu trocar a palavra por “será mostrado”?
- Ahhh! Aí fica melhor.
- Caro nono! Por acaso, “será mostrado” e “visual” não dizem respeito à mesma coisa? Por acaso, nessa sentença, as duas expressões não se enquadram perfeitamente e com o mesmo sentido?
- Sim! – Respondeu ele.
- Para você, a expressão “será mostrado” não é detalhe de interface?
- Não!
- Então, você concorda que, por dedução lógica, as duas expressões não dizem respeito a nenhum detalhe visual?
- Huummm!!! Mais ou menos!!!
- Affffff!!! Deixa pra lá! Me dá aqui que eu modifico. Vai viver de "picuínha” e de preciosismo assim na China! Que povo mais purista! Keep It Simple, Son!
- O QUÊ?!

- Esquece!

E pensou consigo:


- Às vezes o processo tem um pouquinho de razão quando fala da incompetência desse grupo! Mas por outro lado é ele mesmo quem estimula a burrice! E o tempo passando...


Ao final daquele dia, o bilhete caiu do bolso do primeiro conselheiro (que fora o último dos dez a saber da reunião que o Rei queria marcar). O Processo, ao ver o bilhete no chão, permaneceu calado e esperou até que todos se retirassem da sala, para só assim matar a sua curiosidade. Mas, a curiosidade, que matou o gato, quase mata o Processo do coração quando ele viu que o bilhete dizia assim:

Carríssimos Conselheiros,

O Gigante Guerreiro Processo que vocês criaram não passa de um arrogante que não sabe obedecer às minhas ordens.

Desde o início, foi dito que ‘o guerreiro foi feito para o Rei, e não o Rei que foi feito para o guerreiro’. Isso mesmo! No início não era assim, mas ele se rebelou contra mim e também contra vocês. Vocês não tiveram pulso para domá-lo, e confesso que eu também não.

Quero marcar uma reunião com todos vocês amanhã na cozinha, para pensarmos em algo que possa impedir esse gigante de nos escravizar por todos os nossos dias restantes, pois esta situação não pode continuar como está. NÃO PODE!

Pensem em algo e já venham para a reunião com boas idéias, a fim de colocarmos um basta nesse Processo mimado!

Amanhã! Depois do "blá, blá, blá", vão para a cozinha e não para seus aposentos.

Atenciosamente,
O Rei!

O Processo se enche de cólera e diz consigo mesmo:

- Povo ingrato! Querem se livrar de mim! Querem me enganar, não é? Querem me surpreender, não é? Pois bem, vamos ver se eles vão gostar da surpresa que eu vou fazer a eles, amanhã depois do "blá, blá, blá"! Ops! Digo... depois do trabalho!

To be continued...