quinta-feira, 12 de abril de 2012

Anencéfalos: Quanta incoerência!

O caso do momento é se anencéfalos (pessoas sem cérebro ou sem uma parte do cérebro) devem ou não serem abortados uma vez que a expectativa de vida deles é muito pequena.

Argumentos dos mais toscos possíveis, eu tenho visto por aí. Coisas do tipo "É justo para a mãe?" (até parece que a criança é sem pai) ou "a criança vai morrer de todo jeito" (até esquecem que a criança já vinha 9 meses com vida) ou "a criança não sente nada", etc. Gente, se tem vida, e é crime matar a vida, então abortar é crime.

Vamos colocar dessa forma: Dois quartos de hospitais com duas grávidas de anencéfalo, a primeira pede que o médico mate seu filho antes que ele saia do seu ventre e a segunda pede ao médico que mate o seu filho 1 segundo após a criança sair do seu ventre, até porque matar fora da barriga deve ser mais confortável para a coluna do médico e tudo mais. Pergunto: a primeira mãe não cometeu crime e a segunda, sim? Só porque alguns centímetros de carne separam a criança do mundo exterior, o primeiro caso seria de crime e o outro, não?

E se matassem hoje a filha desse casal, que tem dois anos de idade? Eles teriam o direito de reclamar por justiça por conta da morte da filha? Ora, se é anencéfala, não importa se está dentro ou fora do ventre da mãe. Mas quem diria a esses pais que eles não teriam o direito de reclamar por justiça por conta de um assasinato? Ser a favor do aborto, só porque a criança nasceu sem (parte ou total) cérebro é voltar ao tempo de Esparta que sacrificava os defeituosos.

Mas vamos continuar. Dizem que os dias dessa criança estão contados. O que fazer então quando você recebe a notícia que seu pai está com câncer e o médico deu a ele dias ou meses de vida? Ora, nada melhor seria se você matasse seu pai, não é? Ele já viveu muito e já já vai ser corroído pela doença e é inevitável. Por que não matar seu pai? Escute! Você vai sofrer do mesmo jeito, seja matando seu pai agora, seja esperando ele ser definhado pelo câncer. Então mate ele logo para aliviar o SEU sofrimento. E ele? Ele quer ir embora agora? Provavelmente não. Só que seu pai pode falar isso pra você. O anencéfalo, não. Já sei porque você não o quer matar. É que você já criou vínculo com ele. E se isso é verdade, é verdade que seu vínculo com seu pai é bem mais forte do que o vínculo com o bebê anencéfalo, e se o bebê, que não pode falar, é tratado assim, a tendência é que ele seja mais visto como objeto inanimado, quando na verdade NÃO É. Pegue um bebê anencéfalo e pegue um copo e me diga qual dos dois se mexe sem que você mova um dedo.

Perceba que a pergunta "É justo para a mãe?" está sempre vindo de um pensamento egocentrista. Isso mostra a incapacidade da mãe de sair de si e ir na direção de quem mais precisa dela. Você que faz essa pergunta, responda-me essa: "Por que é injusto para a mãe?" ou essa "É justo para a criança?". Se você usa a palavra "justo" eu pergunto: "Que JUSTIÇA você está fazendo à mãe ao abortar a criança?" ou ainda "Que JUSTIÇA você está fazendo à criança?". Aguardo respostas nos comentários desse blog.

Só me vem uma explicação: a incapacidade do ser humano de lidar com o sofrimento. Ninguém gosta de sofrer, mas como diz Santa Terezinha: Sofrer é ruim. Bom é ter sofrido. E nesse mundo, não nos iludamos: todos vamos sofrer. Pode correr com medo do sofrimento o tempo que for, uma hora ele te acha. O importante é sabermos dar um SENTIDO ao sofrimento. Não fugir do sofrimento, mas acolhê-lo e superá-lo. Ninguém é masoquista pra correr atrás de sofrimento, não.

Os pais, acima citados, decidiram acolher o sofrimento e amar a menina, e são felizes por isso. A felicidade deles não brota da ausência de sofrimento, mas da capacidade de depositar amor o tempo todo na vida da menina. Mas nem todo mundo é assim, Emerson! Eu sei, mas porque não pensamos em dar suporte para esse sofrimento, ao invés de eliminá-lo cedo. "O sofrimento da mãe pode e deve ser mitigado pela medicina, a psicologia, a religião e a solidariedade. Além disso, é um sofrimento circunscrito no tempo; mas a vida do bebê, uma vez suprimida, não pode ser recuperada; e também a dor moral decorrente de um aborto decidido pode durar uma vida inteira. Além do mais, o alívio de um sofrimento não pode ser equiparado ao dano de uma vida humana suprimida". E a essa frase de cima eu acrescentaria o sofrimento do pai.

Por fim, gostaria de pedir que você assistisse ao voto de Cezar Peluso (Presidente do STF). Ele fala muita coisa que eu escrevi aqui, mesmo sem eu ter visto esse voto dele antes.


Fico admirado por saber que alguém ouviu isso tudo o que ele falou e não mudou de opinião.

[]'s
Emerson de Lira Espínola