segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Catequizando Hamurabi

Depois de me deparar com várias situações do dia-a-dia que causaram revolta, indignação e desejo de matar em algumas pessoas, vi que seria necessário escrever um pouco sobre esse sentimento de vingança que vem de mais de 1700 anos antes de Cristo.

Na verdade vem desde de antes, mas estou tomando o Código de Hamurabi como referência. Muitos resquícios da Lei de Talião ainda permeiam, residem e animam nossos corações assim como fizeram com o de Hamurabi.

Mas vamos deixar de conversa e vamos ao desafio de Catequizar o rapaz chamado Hamurabi.

Catequista: Olá, Hamurabi.
Hamurabi: Olá.
C: Tudo bom com você?
H: Depende.
C: Depende de que?
H: Depende de como estão meus inimigos ou aqueles que me fizeram mal.
C: Como assim?
H: Se eles estiverem mal, eu estou bem. Se eles estiverem bem, eu estou mal.
C: Ai, meu Jesus!
H: Quem?
C: Jesus.
H: Quem é esse?
C: Já já chego Nele.
H: Ok. O que te trouxe até aqui?
C: Olha, andei lendo o código de lei que você escreveu há um tempão.
H: Gostou? Perfeito, né?
C: Pra ser sincero, não gostei não.
H: Como não gostou? Um negócio perfeito daquele, sem erros, ideal para todos viverem bem.
C: Discordo. Veja bem... Do total de 282 pontos, tiramos 1 que é o ponto de número 13 (supesticioso você, né?), tiramos 34 que não foram possíveis aparecer na transcrição da pedra, restam 247 (muitos inspirados na Lei de Talião).
H: E?
C: E que 45 desses pontos, ou seja mais que 18%, referem-se de alguma forma a atentados contra a vida humana. Desses 45 pontos, 14 são mutilações físicas, 4 são relacionados à afogamento, 2 a queimar no fogo e 25 (mais de 12%) são condenações à morte. Não estou contanto aqui com os pontos aos quais se referem à penalidades materiais, mas à penalidades contra a vida.
H: E o que há de errado com isso? Tem que ser assim mesmo! "Aqui se faz. Aqui se paga". Tá pensando o que?! Tem justiça melhor do que essa? Tem que mandar matar tudinho. Gente ruim só presta morta. O camarada pensa duas vezes antes de fazer. Num é assim, não. Tá pensando que pode sair por aí, passando por cima da libertade dos outros? Roubando, matando, ... Por mim, se eu pudesse descobrir de antemão os safados do mundo inteiro, eu pegava tudinho e matava um por um, e lentamente que era pra os próximos ficarem mais aterrorizados ainda. Tem que pagar na mesma moeda.
C: Então você quer vencer o terror com terror?
H: Comigo é assim: bateu, levou.
C: Já pensou em dar a chance ao infrator, ou como você chama: a essa gente ruim, de se arrepender?
H: Essa gente ruim não tem jeito! Nunca vão mudar!
C: Você já se arrependeu de alguma coisa na sua vida?
H: Não. Eu não me arrependo de nada!
C: Pense direito.
H: Huuummm! É acho que de uma coisa ou outra eu me arrependo.
C: Pois bem. Já pensou que qualquer um, inclusive essa gente ruim que não tem jeito, pode um dia se arrepender de alguma coisa?
H: Como, meu amigo? Se eles não têm jeito?
C: Você acredita que Deus acredita e espera o arrependimento desses que não têm jeito?
H: Deus?! É capaz dEle ser mais rigoroso do que eu na Sua justiça.
C: Lembra que eu falei num nome agora a pouco?
H: Sim. Jesus.
C: Isso. Jesus é o Filho de Deus que nasceu há muito tempo, e veio mostrar a face amorosa de Deus para o mundo.
H: Então ele deve ter descido o chicote nesses infratores safados, ladrões covardes, assassinos podres, cobradores de impostos filhos de uma p*&$, vermes sujos, doentes viciados, etc.
C: Não.
H: Como não?! Ele veio mostrar a justiça de Deus para o mundo, não foi?
C: Foi.
H: E se não foi isso, o que ele mostrou?
C: Jesus contou essa história para que o povo entendesse: Um homem tinha dois filhos. O mais moço foi embora com sua parte da herança...
H: Sem o pai ter morrido?!
C: Sim.
H: É um bastardo mesmo. Safado. Merecia ter as mãos arrancadas ou umas chicotadas no mínimo.
C: Calma. Daí ele foi gastou todo o dinheiro e passou fome. Foi trabalhar alimentando porcos, mas nem a comida dos porcos ele podia comer. Então ele SE ARREPENDEU, e pensou em voltar para a casa do pai dele, mas não pensou em voltar como filho...
H: Pois tinha sido um canalha!
C: Isso. Daí ele pensou em voltar como escravo do pai.
H: Era o mínimo que esse sem vergonha poderia fazer.
C: Pois bem. Nesse ponto você contempla a idéia de justiça que esse filho tinha. Ele não se achava digno, não tinha a cara de pau de voltar a ser filho, o que ele achava justo, CASO O PAI ACEITASSE, seria ser escravo.
H: Concordo com ele, mas só depois de umas porradinhas.
C: Tá certo. Agora vamos ver a continuação da história e ver se a noção de justiça do pai é a mesma do filho e consequentemente da sua.
H: Diz aí.
C: O filho mais novo volta pra casa e no caminho o pai o vê.
H: Se levanta e bate a porta na cara dele. Era o que eu faria. :)
C: Não. Ele corre na direção do filho, abraça-o, beija-o, coloca um anel no seu dedo, vestes novas, mata um novilho gordo e faz uma festa.
H: Hã?!
C: O filho mais novo não era justo daquilo, mas o pai o fez justo de merecer todo aquele cuidado. Elevou-o para o nível de justo de merecimento da festa.
H: Hã?!
C: O filho mais novo merecia a festa?
H: Não.
C: Mas se ele não tivesse cometido nenhuma falta ou transgressão, ele mereceria?
H: Sim.
C: Pois bem, o filho arrependeu-se, o pai perdoou-lhe as faltas, e elevou o filho ao status de zero faltas cometidas, logo, merecedor da festa.
H: Hã?!
C: E quando o filho mais velho (aquele que não cometeu nenhuma falta, nem transgrediu nenhuma ordem do pai) voltou do campo e viu toda a festa ele não quis entrar na casa, pois sabia que o irmão tinha voltado.
H: Também! O menino apronta tudo, volta e recebe uma festa.
C: Não é isso, Hamurabi. Você tá pensando feito o irmão mais velho. Ele não aprontou tudo e voltou de cara lavada, mas ele se arrependeu dos erros.
H: Certo. E o pai? Tô curioso pra saber o que o pai fez.
C: O pai convidou o mais velho para entrar e disse para ele se alegrar, pois o irmão estava como morto, mas tinha retornado à vida. E disse ainda: "meu filho, tudo o que é meu é teu".
H: Hã?! Isso é a justiça de Deus que Jesus veio mostrar?
C: Sim. E digo mais, Jesus contou essa história no momento em que os fariseus estavam condenando ele, porque ele comia e bebia (ou seja, fazia festa) com os pecadores.
H: Quer dizer que quem tava errado, o pai recebeu de braços abertos?
C: Sim.
H: E o que tava certo, quando viu isso agiu errado?
C: Sim.
H: E mesmo assim o pai disse que tudo o que era dele era do filho?
C: Sim.
H: Danou-se.
C: É um amor imenso, Hamurabi. Infinito. Não podemos calcular a largura, altura e profundidade desse amor. Ele chamou os dois de filho.
H: Conte-me mais histórias desse Jesus.
C: Certa vez uma mulher que era tida como PECADORA na cidade se debruçou sobre os pés de Jesus e chorou, chorou, chorou e chorou, beijava os pés de Jesus, e enxugava os pés com seus cabelos.
H: E Jesus deixou essa vadia nojenta tocar nele?
C: Sim. E ainda falou para o fariseu que pensou a mesma coisa que você: "A quem muito se perdoa, demonstra muito amor". Ou seja, a mulher demonstrou muito amor, pois arrependida dos pecados, recebeu o perdão de Jesus que disse: "Teus pecados estão perdoados".
H: Que é isso?! Pela mãe do guarda! Ele perdoou ela também?
C: Sim.
H: Hã?!
C: Outra vez, levaram até ele uma mulher que foi pega em flagrante no adultério.
H: Ahhh. Essa sim levou uma "cipuada", num levou não? Ou pelo menos foi jogada ao rio com uma pedra no pescoço.
C: Não. Jesus olhou pro povo que estava prestes a matá-la apedrejada...
H: Eu estaria no meio desse povo.
C: Acredito. Mas continuando... Olhou pro povo e disse: "Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra".
H: Eu seria o primeiro.
C: Você não tem pecados?
H: Eu não.
C: Pense direito.
H: Tá bom, eu tenho. Certo, mas e aí? Alguém jogou?
C: Começando pelos mais velhos até os mais jovens, cada um foi soltando a pedra no chão.
H: É. Depois dessa, até eu soltaria.
C: Detalhe... Jesus era o único ali que poderia jogar a pedra, pois não tinha pecados.
H: Pelo menos ele jogou, né?
C: Não. Ele olhou pra mulher e disse: "Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar".
H: Hã?!
C: Outra vez...
H: Mais histórias?
C: Sim. Outra vez ele ia caminhando com seus discípulos e foram impedidos de entrar numa cidade. Então um discípulo chegou pra ele e perguntou: "Mestre, o senhor quer que eu mande fogo descer do céu e queimar essa cidade?".
H: Justo.
C: Nem de longe. Jesus olhou pra ele e disse: "Você não sabe por qual espírito você está sendo animado".
H: Esse espírito de vingança não era bom?
C: Nãnãninãnão.
H: Supletivo! Supletivo!
C: Outra vez um dos seus discípulos pegou a espada para defender o próprio Jesus que ia ser preso.
H: Preso?! O que ele fez pra ser preso?
C: Amou e fez o bem.
H: Sem comentários. Continua.
C: Daí Pedro, seu discípulo, pegou a espada e cortou a orelha do soldado. Então Jesus se voltou pra ele e disse: "Guarda essa espada, Pedro, porque quem vive pela espada, vai perecer por ela".
H: Ele era totalmente da paz. Nada de violência. Nada de revidar. Nada de pagar o mal, com o mal.
C: E digo mais... Pegou a orelha do soldado e colocou no lugar.
H: Aí é demais! Uma coisa é não fazer o mal e não revidar, mas fazer o bem a quem te faz o mal?! Pera aí, meu amigo. Tá com a gota. Ele colocou a orelha de volta? Nããã! É amor demais numa pessoa só.
C: Numa pessoa que é Deus ao mesmo tempo. Ele mesmo disse: "Quem me vê, vê o Pai", "Eu e o Pai somos um".
H: Pausa para processar.

3 min depois.

H: Continue.
C: Pois bem. Daí na prisão açoitaram ele até dizer chega, e depois foram crucificá-lo.
H: Ô gente ruim. Fazendo o mal a quem faz o bem. Merecia tudo morrer no fogo!
C: Também acho, mas Jesus não acha assim, não. Ele veio justamente para nos salvar desse fogo, para nos livrar da morte, para nos mostrar o caminho da salvação, o caminho que leva ao Pai do céu.
H: Continue, mas devagar. É demais para minha cabeça.
C: Daí, depois de açoitado e levado para morrer na cruz...
H: Cruz?! Uma das piores mortes que tinha! Mortes para amaldiçoados!
C: Isso. Lá na cruz ele olhou pro céu e rezou: "Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem".
H: Tá vendo que esse povo ruim não tem jeito? Fazendo tudo errado!
C: Tem jeito sim. A prova é o ladrão que foi crucificado com ele. Foram dois ladrões. Um amaldiçoou Jesus, o outro defendeu-o dizendo: "Cala a boca. Nós merecemos estar aqui, mas ele não".
H: Concordo.
C: Veja novamente a noção de justiça do ser humano que é totalmente diferente da noção de justiça de Deus. Para o ladrão era justo estar ali, mas para Deus estar ali era justificar (ou seja, tornar justo) absolutamente todas as pessoas do mundo.
H: Ai ai ai ai ai.
C: E pra você que acha que ninguém se arrepende, aí vai o fim da história do ladrão. Ele olhou pra Jesus e disse: "Senhor, lembra-te de mim, quando estiveres no paraíso".
H: Eu não pediria isso não. Não merecia.
C: O que foi que eu acabei de falar?
H: Tá certo! Entendi.
C: Jesus olhou pra ele e disse: "Ainda hoje estarás comigo no paraíso". Veja que o ladrão se arrependeu dos crimes que havia cometido, e Jesus o acolheu e o recebeu no paraíso.
H: Ou seja, até no final da vida, Jesus espera nossa mudança de vida, assim como o pai que esperava pelo filho mais novo na porta da casa, e quando ele chegou arrependido, ele perdoou-lhe os pecados e o recebeu com festa.
C: Demorou, mas captou.
H: Obrigado. :)
C: Depois disso Jesus morreu.
H: :(
C: Calma. Mas ressuscitou ao terceiro dia e está vivinho da silva do lado direito do Pai.
H: Pauleira esse Jesus.
C: Mas ao mesmo tempo ele está conosco. Toda hora. Todo instante. Todo lugar. E antes de subir para junto do Pai ele disse: "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de vós".
H: Gostei. Só amando pra fazer isso. Estou convencido de que o que eu escrevi no meu código e no meu coração estava errado. Foi totalmente do ponto de vista humano. Não procurei enxergar o humano com o olhar Divino, como Jesus fez.
C: Fico feliz por perceber isso.
H: Mas ainda não compreendo uma coisa. E os efeitos das faltas, transgressões, pecados das pessoas?
C: Como assim?
H: Elas vão causar danos em outras pessoas. Por que elas não mereceriam receber na mesma moeda?
C: O pecador terá que fazer o compromisso de não voltar a pecar. Lembra de Jesus falando: "Vai e não tornes a pecar"?
H: Sim.
C: E mais ainda ele pode e deve se comprometer em consertar o que puder o que seu erro bagunçou. De fato existem pecados que seus efeitos são devastadores, como é o caso da morte ou mutilação. Mas você tem que concordar que não é pagando na mesma moeda que vai desfazer os efeitos do pecado. Se eu atirar em você agora, você morre. Eu posso me arrepender de coração profundo, e Deus me perdoar, mas me matar não vai trazer sua vida de volta. Logo, concluimos que pagar na mesma moeda não resolve o problema da fragilidade humana. Os efeitos ficam, mas a humanidade avança e tem a oportunidade em Cristo Jesus de mudar de vida e diminuir os seus pecados.
H: Todos nós pecamos?
C: Todos somos devedores, pois pecamos. E digo mais nossa dívida é enorme. Jesus repetiu várias vezes que não "temos com o que pagar". Ora se não tenho como pagar a dívida, não há nada que eu faça que vai arrecadar dinheiro suficiente para pagar essa dívida. Só me resta o arrependimento. O perdão é Deus quem dá.
H: Sou capaz de dar perdão também?
C: Sim. Deus dá essa graça. Seu trabalho é só dizer "SIM. Eu quero perdoar!" e se esforçar para manter esse SIM aceso. O resto é Ele quem faz.
H: Então essa é a face de Deus que Jesus veio mostrar?
C: Sim. Na verdade Jesus mostrou muito mais, que nem eu nem você entendemos ainda. Mas isso foi só a ponta do iceberg do amor de Deus.
H: Quero mudar minha vida e meus pensamentos para ter a mesma vida e os mesmos pensamentos de Jesus Cristo.
C: Você leu isso em algum lugar?
H: Não.
C: :) É o Espírito Santo de Deus que Jesus enviou que está tocando o seu coração.
H: Espírito Santo?! Tem Deus que é o Pai, tem Jesus que é o Filho. E quem é esse Espírito Santo?
C: É o Espírito de Amor que provém do Pai e do Filho. Mas aí é assunto pra outra conversa.
H: Então como eu faço para me reunir com você em nome dele para que ele esteja no nosso meio?
C: Chega junto aqui. Agora faz assim comigo: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Amém".

Existem muitos Hamurabis espalhados nesse mundo. Às vezes eles tomam uma parte do nosso coração e nos faz agir contrários ao amor de Deus. Se assim como eu, você tem restos de Hamurabi aí dentro do coração, busque o Amor de Deus. Peça que Ele coloque no seu coração o Seu olhar. E deixe que Ele vá aos poucos te transformando numa bela árvore, bem podada e cheia de frutos, que abriga passarinhos e alimenta quem necessita. Vingança nunca foi a resposta. Jesus tá aí pra provar isso.

Que essa sua nova vida se estenda a todos os lugares onde você for: casa, trabalho, colégio, farmárcia, universidade, lazer, ...

C: Tem alguém justo diante de Deus?
H: Sim.
C: Quem?
H: Todo aquele que se deixa ser justificado por Deus.
C: Bom garoto! :)

Amém.