sábado, 23 de agosto de 2008

Capítulo IV - Ah, se meu Código falasse!

Capítulo IV

- Afffff!!! – Exclama o terceiro – Que coisa mais chata ter que documentar a vida do Rei desde o início.
- Só saem daqui quando terminarem isso – Se impõe o Guerreiro com a moral que conquistara do Rei.
- Falta pouco, terceiro – Respondeu o quarto.
- Assim espero – Suspira novamente o terceiro.

Depois de muitos suspiros de cansaço dos conselheiros, chega o comunicado de assembléia geral com o deus, e com ar de novos requisitos.

- Pára tudo! – Exclama terceiro – Podemos terminar isso mais tarde. Temos que ir para a reunião com o deus.
- Discordo, sir terceiro. – Responde o Gigante – Precisamos terminar isso antes da reunião.
- Não podemos deixar o deus esperando. – Fala o primeiro.
- Repito... Só saem daqui quando terminarem de documentar a vida do Rei.
- Você não entende, Processo, o deus não gosta de esperar. – Se pronuncia o quinto.

E puxando a espada, o Guerreiro dita as regras:

- Vocês é quem não estão me entendendo.

E apontando a espada para cada um dos conselheiros, continua:

- Vamos terminar isso agora de uma vez por todas, entenderam?
- Sim. – Com medo, responderam todos.
- Para quem foi criado para servir, você está me saindo um gentleman, caro Guerreiro. – Ironiza o décimo.
- Graças a vocês, caro décimo. – Responde na mesma moeda o Gigante – Agora sentem esses traseiros nerds nessas cadeiras e vamos terminar essa documentação.

E passaram mais umas poucas horas diante do Gigante contando como o Rei tinha atinjido o estado atual. Ao terminarem, correram para a assembléia geral, quase atropelando uns aos outros.

Ao chegarem lá, não viram o deus, mas em seu lugar somente um bilhete que dizia:

Esperei demais. Quem vocês pensam que são para me deixarem esperando por vocês e me fazerem gastar meu precioso tempo? Por acaso não tenho o que fazer? Nos reuniremos amanhã no mesmo horário e, para a saúde de vocês, não me deixem esperando.

Todos os conselheiros partiram para cima do Guerreiro para tomar satisfações do seu ato rude na outra sala, mas bastou um olhar de ameaça e uma espada desambanhada para torná-los como uma ninhada de gatinhos recém nascidos.

No dia seguinte todos se reuniram na sala. Estavam lá o Rei, os conselheiros, o Guerreiro, e o deus. O deus achou estranho a presença do Guerreiro, mas se mostrou indiferente ao mesmo. Na discussão os conselheiros mostraram a implementação do requisito que o deus tinha pedido anteriormente. Esse, por sua vez, ressaltou a falha deixada pelos conselheiros no que diz respeito a remover a audição dos ouvidos.

- Eu não pedi isso. – Disse o deus.
- É. É. É. Nós entendemos errado então. – Tenta defender o time o terceiro.
- Mas entenderam errado desde o início, então, pois desde o início eu pedi que o Rei ouvisse pelos ouvidos. – Retruca o deus – Só pedi esse novo requisito para ter um diferencial com relação aos outros tipos de Reis que vemos por aí, mas... enfim... corrijam o erro...
- YESSSSSSS!!! – Vibra o Rei. Mas logo se recompõe.

O deus continua sua fala:

- E coloquem um cabelo rastafari no Rei.
- O QUE?! – Se espanta o Rei.
- Isso mesmo, vai ser um diferencial bastante forte. – Complementa o deus.

A reunião se encerra e todos voltam para a sala real decepcionados com os comentários do deus, mas decidem começar a nova modificação pedida.

- Alteza, o senhor pode ficar em pé aqui? – Pede o oitavo.
- Fazer o que, né? – Fala o Rei.

Enquanto todos arregassavam as mangas para começar a alteração, o Gigante Guerreiro intervém:

- O que pensam o que vão fazer, os senhores?
- O novo requisito e a correção do anterior. – Responde o décimo.
- Nã-nã-ni-nã-não. – Fala o Guerreiro com um sorriso sarcástico.
- Como não? – Sem entender, fala o Rei.
- Vamos criar evidências objetivas, documentar, organizar, estimar, dividir pra conquistar, modelar, revisar, para só então começar a implementar. – Fala com todo o orgulho o Gigante Guerreiro Processo.
- Eu me recuso!!! – Exclama o sexto, mas imediatamente é ameaçado pela espada do Guerreiro.
- Quem ousa se recusar às ordens do Processo? – Questiona o Gigante.

Ninguém ousou nem responder. Nem mesmo o Rei.
E começaram as atividades coordenadas pelo Processo, enquanto o Rei foi dormir um pouco.
Lá por volta das tantas, ouve-se a seguinte conversa:

- Terminei o documento de requisitos. – Fala o terceiro já de saco cheio.
- Vamos revisá-lo. – Fala o Processo.
- Xiiii. – Lamenta o segundo. – Tá com cara de casos de uso.
- Casos de uso?! Impossível!!!
- É, sim! Tá cheio de tópicos enumerados.
- Mas calma, o que está escrito é requisito ou não?
- É, mas...
- Outra coisa... – Adiciona, o quarto, sua crítica – tem muito SE aqui. Num tem como tirar esses SEs, não?

Neste momento aparece o Rei com o olho ainda sujo e a cara amassada de sono, perguntando:

- Já?
- Não, Alteza! Pode voltar para a cama. – Fala o quinto.
- Vou dar uma volta pelos campos. – Responde.

Sem saber o que fazer, o terceiro pede ajuda:

- Meu amigo, por favor, é uma limitação minha, ajude-me a re-escrever essas sentenças sem o SE.
- Fácil! – Fala o nono bem empolgado – É só trocar o SE por NO CASO DE. É mais elegante.
- Ai, ai, ai!!! – Quase chora o terceiro.

O saco do terceiro já estava tocando o lago que circundava o castelo real, de tão grande que ele estava.
O rei volta do seu passeio e pergunta na sala:

- Já?
- Não!!! – Fala o quinto.
- Vou jantar então.

Depois do jantar, o Rei volta novamente e vê que o assunto ainda é o mesmo. Já aborrecido pergunta ao Processo:

- JÁ?!
- Não!!!
- E agora?
- Agora o quê?
- E agora já terminou?
- Acabei de dizer que não! – O Guerreiro já estava colocando a mão na espada.
- Certo! E agora?
- Ainda não!
- E agora?
- Não!!!
- E agora?
- Não me amole, seu Reizinho de meia tijela! – Responde o processo com gritos.
- Não me amole, você, seu Processozinho de décima categoria! – Encarando o Gigante, o Rei responde à altura. – Eu sou o Rei, e você é um novato por aqui. Você não interessa ao deus, mas eu sim. Eu estou aqui de molho o dia todo, enquanto vocês ficam aqui trancados escrevendo baboseiras que ninguém vai ler depois.
- Não se meta no meu trabalho.
- Você foi construído para me servir, seu Processo arrogante.
- Mas já abstrai isso, uma vez que vi a incompetência de vocês. Agora vocês reclamam, mas no futuro me agradecerão.
- Essa é a sua vaga promessa.
- Não me amole e deixe-me trabalhar.

E antes de ir embora, o Rei se aproxima do oitavo e solta um pequeno papel no seu colo. Ele imediatamente o esconde sem deixar que o Guerreiro o visse, e só abriu o bilhete quando estava em seus aposentos.

To be continued...

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