terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Um peso, duas medidas

Certa vez numa conversa entre amigos surgiu o assunto de que antigamente se achava que a Terra era quadrada e que a Igreja foi uma das que queria manter esse pensamento. Dessa conversa surgiu o post "Galileu e o Papa tiveram um pequeno desentendimento". Mas aqui quero me deter em outro aspecto dessa conversa. Um dos que estavam na conversa falou bem baixinho para o outro do lado: "São uns FDP". Uso FDP aqui para não escrever de forma integral o palavrão conhecido por essa sigla. Acho que ele falou baixo para não querer me ferir, pois sabe da minha participação na Igreja. Eu ouvi, mas não quis demonstrar minha chateação imediatamente e então escrevi o post mencionado acima. Hoje sabemos que a Terra é redonda.

Pois bem... Recentemente aprendi que os pediatras de antigamente ensinavam que não se deveria acordar recém-nascido para dar de mamar, mas hoje eles já ensinam que a cada 3h (4h no máximo) a criança, mesmo dormindo, deve ser acordada para mamar. Se a criança ficar sem comer por muito tempo pode ter uma hipoglicemia.

Pergunto agora. Poderia eu chamar os pediatras (de forma geral) de FDP? Ora, várias crianças colocadas em risco por conta do ensinamento deles. Isso se não houve fatalidades como, por exemplo, casos de crianças que tinham morte súbita ao dormirem de barriga pra baixo, quando na verdade se sabe que elas devem dormir de barriga pra cima ou, de preferência, de lado. Quantos pediatras ensinaram errado aos nossos pais, avós, bisavós, por muitos anos? Por que fizeram isso esses bastardos? Posso chamá-los (os de ontem e os de hoje) de FDP? Posso nunca mais visitar um pediatra com minha filha, porque os pediatras do passado falaram asneiras?

Num instante vai chegar o defensor da ciência dizendo: "Meu caro, a ciência evoluiu e percebeu que estava errada. Hoje só ensina errado quem não se atualizou no conhecimento". Ahhh! A ciência tem o direito de evoluir, mas a Igreja não. É isso? Falo Igreja, mas poderia muito bem me referir a qualquer religião. Mas voltando... Então é isso? A ciência tem o direito de evluir no conhecimento técnico/científico, e a Igreja não tem o direito de evoluir no conhecimento de Deus?

Bem, para que você saiba que a Igreja tem o direito de evoluir no conhecimento de Deus, faço uso das palavras do próprio Jesus quando disse: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora" (Jo 16, 12). Opaaaaa! Mas toda revelação de Deus foi manifestada em Jesus Cristo. Verdade, mas uma coisa é a manifestação, outra coisa bem diferente é o entendimento dela. Se não podemos suportar hoje, é melhor mesmo que só saibamos depois para que a gente não pire, mesmo que cometamos erros nesse caminho de aprendizado do antigo para o novo, do antes para o depois. E quando alcançarmos o novo, o depois, voltaremos para a estaca zero do ciclo, onde o que era novo passa a ser antigo, onde o que era depois passar a ser antes. A gente tá cansado de ver a pedagogia de Deus na Sagrada Escritura. Por exemplo: quantas vezes vemos os discípulos crendo em Jesus e na sua divindade? Creram nas bodas de Caná, creram quando o viram caminhar sobre o mar, creram quando Jesus ressuscitou dos mortos. O crer foi sendo amadurecido ao longo do tempo.

Citei aqui o exemplo dos pediatras, mas poderia ser qualquer outro exemplo da evolução da ciência, principalmente nos pontos onde ela percebe que estava errada. Isso sem falar na briga das "correntes" da ciência, o que para mim é uma demonstração de que nem eles sabem ainda o que estão descobrindo, mas estão no processo de descoberta. Poderia alguém daqui a, sei lá, 200 anos olhar para essa ciência de hoje e dizer: "São uns FDP"? Gente, bota a cabeça pra funcionar.

Se você dá espaço para a ciência errar e se contradizer até chegar numa ciência mais amadurecida, dê o mesmo espaço também para a Igreja. Afinal de contas, o simples fato de que pessoas (e por vezes as mesmas pessoas) vivem na ciência e na Igreja, potencializa a capacidade de errar nesses dois ambientes. Então não preciso falar mais, né? Pois onde há pessoas, não procure anjos.

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